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O dia em que Ela chegou

Atualizado: 29 de nov. de 2018

Aviso Legal

  • Os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a pessoas reais, esta obra contém retextualização em <https://www.youtube.com/watch?v=ohHP1l2EVnU> assim, as falas em períodos marcados entre aspas são de propriedade intelectual de seus respectivos autores. Os eventuais personagens originais desta história são de minha propriedade intelectual. As situações e personalidades aqui encontradas refletem minimamente a realidade atual, tratando-se esta obra, de uma ficção. História sem fins lucrativos, feita apenas de fã para fã sem o objetivo de denegrir ou violar as imagens dos artistas. Fanfiction oneshot


Era quarta-feira e o sol brilhava forte no céu mato-grossense. O ar era seco e ainda não havia sinal de chuva. Eu estava lecionando no oitavo ano do ensino fundamental, em uma escola pública da rede estadual. A aula era sobre fanfiction e os alunos foram organizados em grupo para realizar a produção. Ah, mas sobre os alunos, falarei depois para que não haja risco de desviar-me do fato principal da história. Portanto, sigamos!

Então, é o momento de começar a narrar o que aconteceu neste dia. Indubitavelmente, você poderá ficar em dúvida sobre o que aconteceu. Assim, apenas lamentarei por você não poder nem ao menos conseguir imaginar o que vivenciei. Inclusive, tenho dúvida se tem idade para conseguir entender este enredo.

Certo, todavia lhe contarei.

Estava em sala e a porta encontrava-se fechada quando de repente, alguém bate. Sem tempo de ver quem era, eis que a porta é empurrada e surge uma senhora. Todos pararam o que estava fazendo e ficaram vidrados nela, até mesmo eu.

Logo se via que ela era diferente. Seus cabelos tinham estilo retrô, embora bem penteados. Usava uma saia longa, acompanhada de uma blusa preta e ornamentada por um colar, também preto, porém em três camadas que brilhavam. Além disso, tinha a pele branca, bem maquiada e as sobrancelhas bem desenhadas. O seu look se completava com um sapato de salto alto vermelho, estampado por bolinhas brancas.

Ela adentrou a sala e correu os olhos em tudo e em todos. Pediu licença e disse que gostaria de terminar a sua missão porque estava ali para isso. Eu mais que depressa, disse que ficasse a vontade. Foi aí que tomando a palavra, ela começou a dizer:

- Quem sou eu? Eu sou a sua incerteza das coisas.

Ninguém estava entendendo nada. Mas, ela continuou:

- Apesar de eu ter nascido na Ucrânia, considero-me brasileira e pernambucana. Meu nome era Haia Pinkhasovna, entretanto adotei outro nome, o qual vocês irão descobrir.Tive uma paixão impossível ... Já fui jornalista. Hoje, “eterna escritora”, falo sobre labirintos da vida cotidiana, laços de família e experiências mais complexas; como o amor, a paixão, o ódio, a amizade e a inveja.

Eu estava atônita, mal acreditava no que estava vendo e ouvindo. Era Ela, a mulher em que tantas vezes falei em minhas aulas de literatura. Agora podia ouvi-la, era o sonho de uma fã, finalmente se realizando. Meus olhos lacrimejavam e eu não conseguia balbuciar nenhuma palavra. Os alunos também estavam paralisados diante daquele mistério em forma de mulher.

Parecia sentir a pureza daqueles seres, então, continuava a se expor:

- Já tive viagens enfadonhas por conta de diplomacia, mas isso passou. Agora, quero falar sobre família. Vocês devem gostar da vossa, não é? - E Ela continuou:

"- O meu pai foi representante de firma, enquanto na verdade ele dava para as coisas do espírito. Eu fiquei surpresa, ao saber que minha mãe também escrevia. Minha tia disse que ela escrevia diálogo, mas de fato era poesia. Não, eu nunca cheguei a ler, soube disso a pouco... Não é fácil escrever."

Nesse instante, alguns alunos balançavam a cabeça, concordando com Ela.Como se estivesse em uma entrevista, começou a descrever o seu ato sublime:

"- Aos sete anos comecei a escrever. Sim, meu objetivo é apenas escrever. Faço questão de não ser profissional para manter a minha liberdade. Eu nunca assumi, ser escritora, pois quero manter a minha liberdade. Às vezes, vegeto em alguns escritos e para me salvar, começo a escrever outra coisa. Tenho períodos de hiatos, em que a vida fica intolerável! Já escrevi para o meu filho, pois se comunicar com criança é fácil, já se comunicar com adultos é se comunicar com o mais secreto de mim mesma. O adulto é triste e solitário. A qualquer momento na vida, basta um fato inesperado para o adulto ficar triste. Mas eu não sou triste não! Estou triste hoje, porque estou cansada..."

Parecia ter ficado sem jeito com as palavras adulto e tristeza, aí Ela suspirou e surpreendentemente, acendeu um cigarro. Todos se entreolharam, como se ela não soubesse das regras ou tivesse dando mau exemplo. No entanto, ninguém ousou dizer nada, muito menos eu. Assim, ela prosseguiu:

"- Quando eu não escrevo, eu acho que estou morta. Porém, preciso esvaziar-me entre um trabalho e outro. Eu me compreendo bem, os outros é que não me compreendem. Já fiquei decepcionada com a minha escrita. Uma vez, escrevi sobre um mineirinho que morreu com treze balas, quando uma só bastava. Isso me deu uma revolta danada! Mas, isso não altera nada. Escrevo sem esperança que o que escrevo vai alterar alguma coisa. Então, não sei por que escrevo..."

Foi nesse instante que a fumaça do seu cigarro contaminava a sala de aula, aquele cheiro!

Os seus olhos fixaram em mim, não sei a razão, era como se eu tivesse que responder por que escolhi ser professora, por que os alunos nem sempre entendem os conteúdos. Aí, eram as perdas que se desenhavam nas paredes da sala. Um nó na garganta surgiu, era saudade eterna dos meus pais. O medo da vida, de não dar conta de responder o que esperam de mim. O mundo girava ao redor, aquela fumaça, aquele olhar...

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Já era noite quando abri os olhos e um homem de branco se aproximou e perguntou:

- A senhora está bem?

Eu balancei a cabeça indicando sim. Mas, estava aflita. Imediatamente, perguntei onde estava e ele respondeu:

-A senhora está no hospital. Desmaiou em sala de aula e chegou ainda inconsciente. Mas, fique tranquila, aparentemente tudo já está normal.

Normal... parecia uma palavra e um mundo estranho, no entanto foi nesse instante que meus alunos entraram no quarto com olhos de inocência e amor.

Por enquanto, isso acalentava o meu coração.

Iraci Sartori



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